segunda-feira, 5 de julho de 2010

Capítulo 32- Contra Tudo e Contra Todos

Eu sempre gostei de crianças. E eu sempre tive facilidade em lidar com elas. Quando eu ainda vivia minha vida normal de adolescente, eu lembro que às vezes eu ia ajudar minha mãe no trabalho dela. Minha mãe era dona de uma "brinquedoteca", que ficava na mesma escola que eu estudava. Um lugar onde os pais deixam os filhos quando sabem que vão se atrasar para buscá-los, onde as crianças brincam e jogam jogos e tal. E eu lembro que quando eu ia lá, elas ficavam malucas! Brincávamos de pega-pega, jogávamos jogos de tabuleiro, teve uma vez que eu até apresentei uma peça de teatro pra elas. E elas, de olhos arregalados, por ter um "adulto" para brincar com elas. Mas eu não precisei de minha habilidade para convencer a garota (eu ainda não sabia o nome dela) a se esconder. No momento em que a porta começou a tremer, eu olhei para ela e falei "Se esconda! Rápido!", no que ela disparou e sumiu, nem dando tempo para eu ver aonde ela iria se esconder. Peguei a perna da mesa, caída no chão, e andei lentamente até a porta. Abri a porta com uma mão, de uma vez, e um zumbi pulou em cima de mim, mas eu, preparado, pulei para trás, deixando ele caído no chão. Em pouco tempo, uma poça de sangue se espalhava pelo carpete lilás, e um cadáver já sem vida descansava no chão. Eu percebi que mais um punhado de zumbis lutava para subir as escadas, tropecando a cada degrau. Não iria demorar para que eles chegassem ao segundo andar. "Merda!" eu pensei, procurando, desesperado, uma rota de fuga. Eu olhei pela janela, vendo a altura. O que eu não lembrava é que a janela ficava no telhado, graças a Deus. Sorri e me virei para o quarto novamente, dizendo pra ela sair. Um segundo depois, me arrependi de ter feito isso. Tinha um cadáver com uma poça de sangue ao lado da porta e eu, por estar acostumado a ignorar esse tipo de coisa, me esqueci dele. No momento em que a porta do armário se abriu, eu corri e peguei ela no colo, dizendo:
-Não olhe para o resto do quarto, fica de olho fechado, tá bom?!

Exatamente da maneira que eu achei que ela iria agir, ela olhou para o resto do quarto, enquanto eu lutava para abrir a janela com uma mão ao mesmo tempo em que tentava bloquear a visão dela do resto do quarto com o meu corpo. Eu falei, meio bravo:
-Pára de olhar!
Ela se assustou e eu me desculpei:
-Olha, desculpa, é que nós temos que sair rápido. Você tem que confiar em mim, olha pra mim, você não vai querer ver o que tem no resto do quarto, fica olhando pra mim.

Ela assentiu com a cabeça, meio chorando e ficou olhando pra mim. Eu abri a janela e falei:
-Isso, continua olhando pra mim.

Ela começou a desviar o olhar para o lado e, enquanto eu abraçava ela para sair pela janela em segurança, mas então eu falei:
-Não olhe pro seu quarto, fica olhando pra mim! Vai dar tudo certo, você vai ver!

Eu saí pela janela e fiquei de pé no telhado, abraçando ela. Olhei para baixo, para ver onde estava pisando e acabei vendo o chão lá embaixo. Meu medo de altura voltou. Tinha adquirido aquilo desde que caíra de uma árvore e quebrara os dois braços, muito antes da invasão. Me senti meio tonto e me encostei na parede. Péssima ideia. Um zumbi; que já havia chegado no segundo andar, atravessado o quarto e andado até a janela; estendeu a mão e segurou meu ombro, me puxando pela camiseta. Eu estava segurando uma criança de quatro anos com os dois braços e me dei conta de que havia esquecido a minha arma dentro do quarto. Entrei em pânico, me sacudindo e puxando o braço para fora, tentando fazer o zumbi bater na parede pelo lado de dentro. Ele bateu e me soltou. Eu fui lançado para frente, me desequilibrando na beirada do telhado. Senti meu peso ir para frente, tentando, desesperadamente, me jogar para trás, o que era muito difícil carregando a garotinha no colo. Eu caí, sentindo o ar se esvair dos meus pulmões, de medo. Eu ia esmagar a garota. Num impulso, joguei ela para longe, ouvindo seu choro enquanto a o chão se aproximava e eu ouvia o barulho de dois corpos batendo na grama. Ainda bem que eu não desmaiei naquela hora.
Alguns zumbis circulavam aleatóriamente pelo quintal, a grade da entrada entortada. Os zumbis que eu havia trazido para lá deviam ter sobrecarregado a grade de peso: não eram poucos. Eu levantei, meio tonto, batendo a cabeça em um zumbi enquanto o fazia. Caí para trás e senti a pancada. Mas precisava me levantar. A garota estava em perigo. Eu ouvia outros desmortos se aproximarem, enquanto o que estava à minha frente se impulsionou para minha direção. Rolando para o lado, deixei ele cair no chão, me levantando logo em seguida. Olhei em volta e vi a garotinha berrando de dor. Claro que ela não estava pronta para uma queda dessas. Vários zumbis começavam a se aglomerar ao redor dela e eu comecei a me desesperar. Num surto repentino de instinto paterno, adrenalina sobrecarregou meu sangue. Nem sei direito como fiz o que fiz. Sei que tuco ficou meio borrado e a única coisa que me importava naquela hora era a menina. Corri até ela, derrubando zumbis com empurrões, jogando eles para os lados com uma facilidade enorme. Por trás dela, um morto-vivo se aproximava, babando seu próprio sangue. Eu corri ainda mais rápido, fumegando de raiva e, num salto monstruoso, estendi uma das minhas pernas para frente, acertando a testa do zumbi, que voou para trás por um metro, enquanto eu caía, em pé, uns centímetros à frente da menina. Peguei ela no colo novamente e, correndo, atravessei a brecha na grade, tentando fugir o mais rápido possível daquele inferno que havia se tornado a tal casa.

3 comentários:

  1. A lenda: A continuação que nunca chega...

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  2. Cadê o próximo capítulo? (som de brisa ao fundo) Eu espero!

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  3. kkk ow foda vc so conta com sorte toda hora,n tem como vc conseguir fazer algo sem sorte? sasauush , instinto paterno?vc poderia colocar so instinto msm pq como ela poderia ser sua filha tb poderia ser sua irma entaum colocar parteno n valeria muita coisa

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