sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Capítulo 1- O Começo do Fim

Eu me lembro exatamente de como tudo começou. De como nós saímos da nossa vida confortável de adolescentes para o Inferno. Meu irmão foi para a praia passar o feriado com os amigos. Minha mãe viajava a trabalho. Meu pai morava no Rio de Janeiro. E eu tive a genial ideia de chamar meus amigos para virem dormir aqui em casa. Tinha comida o suficiente para eu e meu irmão. E meu irmão come pra caramba. Chamei eles para o final de semana prolongado. Além da comida, havia o dinheiro que minha mãe deixara para emergências. Já havia chamado a Vany, 3 andares acima. A avó dela era bem gente boa e, por isso, deixou sem problemas. Além dos mais, estava gripada. Não queria passar o que quer que tivesse para a neta. Ela me conhecia bem e sabia que eu faria qualquer coisa pela Vany. Então nós alugamos um monte de filme de terror, compramos meia dúzia de pacotes de pipoca e ficamos todos embaixo da coberta, assistindo os filmes seguidos, virando a noite, enfim. Foi segunda feira de manhã, feriado, que passou no Noticiário Matinal. O âncora puxou a notícia com seriedade e uma repórter começou a falar num hospital não muito longe de casa, enquanto, atrás dela, médicos estudavam um cadáver. Algo sobre um vírus. Uma espécie nova. E então, de repente, com um buraco na barriga, o cadáver se levantou. Eu lembro o que aconteceu. O câmera continuou filmando, mas a mídia cortou. Ivan ficou só olhando, olhos arregalados, boca aberta. Eu lembro de ter procurado a mão da Vany, para encontrar conforto, mas ela já tinha levantado para ir ao banheiro vomitar. Pedro só sorriu. Eu corri atrás da Vany enquanto o âncora falava algo sobre tomar cuidado com possíveis ataques de agressores e evitar qualquer contato com os tais. A Vany se encontrava dobrada sobre a privada, colocando comida pra fora. O meu estômago começou a afundar. A Vany começou a chorar baixinho e eu cheguei do lado dela, sentei, abracei ela e limpei o seu rosto com um pedaço de papel higiênico. Ela perguntou:
-O que foi aquilo?

Eu não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar. Eu não sabia o que era aquilo. Eu não sabia o que fazer. Não sabia que barulho alto era aquele que eu ouvi do lado de fora da janela. Não sabia sobre o que Ivan e Pedro conversavam na sala. Eu queria dizer pra ela que não fora nada, mas as imagens da TV ainda gravadas em minha mente me impediam de mentir. Eu queria dizer pra ela que não ia acontecer nada, mas o barulho agora reconhecível de helicópteros me impedia de fazê-lo. Eu queria dizer pra ela que ia ficar tudo bem, mas eu já não tinha tanta certeza assim. Eu queria dizer para ela que era só um engano, uma brincadeira. Mas o que eu disse foi a primeira coisa que me veio na cabeça. podia até ser uma opinião errada, mas a palavra me saltou a mente no momento e eu não pude contê-la. O que eu disse foi:
-Eu acho... Eu acho que aquilo era um zumbi, Vany.

Prólogo

Eu não sei o porque disso estar acontecendo. Eu não sei se foi uma falha humana num laboratório, ou se foi um vazamento de lixo com perigo biológico ou qualquer merda dessas; também não me interessa. A causa disso não vai mudar nada os fatos. Eu sei que a cidade foi isolada e depois evacuada. E logo vão destruir tudo. Eu não tenho culpa disso. Mas é claro que os militares, em sua corrida desesperada para se salvarem, esqueceram de fazer um bom trabalho ao recolher os civis. Minha mãe estava viajando a trabalho. Meu pai mora em outra cidade. Eu sou só um adolescente de 15 anos preso aqui com essas merdas desses zumbis. Ninguém mais entra ou sai da cidade. Podemos ser portadores do maldito vírus mas não manifestar a doença. Merda. Eles teriam que ter certeza de que eu estou livre do vírus pra me levar pra fora novamente... Eu não sei o que fazer. Na minha vida normal era para eu estar na escola com meus amigos, azarando as meninas, zoando com os colegas, me matando de estudar pras provas... Parece que faz tanto tempo...

Agora eu não lembro de quem foi a ideia de escrever sobre o que aconteceu com a gente. Acho que a gente precisava registrar o que já tinha acontecido. Não dá pra passar pelo que a gente passou e simplesmente morrer depois. Acho que, principalmente por causa dos nossos pais lá fora, a gente precisava registrar o que tinha acontecido. Nós mesmos. Com o nosso ponto de vista. Eu fui escolhido em consenso. Acho que me escolheram porque sou eu que escrevo melhor no grupo. Bem, vamos começar isso efetivamente, ok? De que serve uma história sem personagens? Vou me apresentar e a cada outra pessoa do grupo em ordem aleatória.

Meu nome é Hugo Mendes de Oliveira, eu sou um garoto de 15 anos. Sou magro, altura mediana, cabelos pretos e olhos escuros. Tenho um nariz saliente, eu acho meio feio, mas é uma característica minha. Sem ele, meu rosto não seria mais... O meu rosto, certo? Enfim, eu não sou feio, mas também não sou muito bonito. Sou muito fácil de derrubar, às vezes caio sozinho. Meus braços são relativamente fortes, pra alguém da minha idade, mas é só. De resto eu sou normal, fisicamente. Eu sou ator. Sou uma pessoa simpática e animada. Raramente me estresso, mas quando me estresso, geralmente é por algo bobo. E quando eu me estresso, eu me estresso MUITO. Sou bom em inglês, aliás, sou bom em aprender basicamente qualquer coisa. Não sei, eu tenho uma facilidade enorme para entender as pessoas e o que elas querem dizer...

Outro no meu grupo é o Ivan. Ivan de Lara Verite, 16 anos, nerd. Basicamente. Ele adora Senhor dos Anéis, Star Wars e Asterix; nunca se deu bem com garotas e tem muitas peculiaridades estranhas. Ele é teimoso pra caramba, o que sempre me irritou. Mas tem alguma coisa nele que me acalma, ao mesmo tempo. Ele é um cara calmo. Nunca vi ele estressado, na época das nossas vidas normais. Ele tem cabelo encaracolado e preto, tem um nariz largo e achatado e uma pele levemente morena. Ele é mais magro que eu e eu nunca consegui imaginá-lo numa luta. Quer dizer, antes dessa merda toda acontecer...

Tem outro amigo meu, Pedro. Pedro Bettega Teixeira, 16 anos. Alto, loiro, magro, olhos azuis, voz grossa... Já ouvi histórias de garotas que seguiram o Pedro no shopping. Apesar de tudo, ele é um cara espontâneo, despreocupado e gente boa. Aliás, tem vezes que ele me assusta. Ele definitivamente não é normal. Não estou dizendo que tenha problemas, mas ele encara a morte com uma gozação não natural. E isso me assusta. Muito.

A terceira e última pessoa é a Vany. Vanessa D'Avila, 16 anos(Por que eu sou o mais novo?). Minha vizinha e companheira para todas as atividades, ela sempre foi uma pessoa meio transitória. Ia rapidamente da felicidade à tristeza, do amor ao ódio. Passional ao extremo (ou amava ou odiava, ela não podia simplesmente gostar ou não gostar) e muito animada, desde que nos vimos, foi amor à primeira vista. Fomos feitos um para o outro. Não como romance, não. Mas a gente... A gente combinava. Eu lembro como ela costumava dizer que eu era "Namorado demais pra ser só amigo e amigo demais pra ser namorado". Sinto falta da época que ela podia dizer essas bobagens. Que a gente ria à toa, juntos. Ela tem cabelos escuros, olhos verdes muito claros e um rosto redondo e bochechudo. É pálida, magra e tem uma voz melodiosa. Ela teve um passado parecido com o meu e isso fez a gente se unir mais ainda. Espero que sobrevivamos até o fim disso.


Enfim, esses são os "personagens" da nossa história. E claro, essas são as minhas opiniões sobre eles ANTES do acidente. Antes dessa merda desse cheiro de podridão empestar nossas roupas, nossas casas... Nossas vidas.