terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Capítulo 20- Uma Manhã Quase Comum

No dia seguinte eu levantei cansado. Quase não dormi. Acordei e apenas Ricardo estava de pé. Ele estava fazendo uma mesa de café pra gente. Eu dei bom dia e fiquei quieto, como geralmente faço de manhã. Percebi que ele também era assim, porque mal respondeu meu bom dia e ficamos um tempão sem falar nada, eu ajudando ele a preparar a mesa. Terminamos, sentamos e começamos a comer. Aí ele falou:
-Tenho que sair daqui a pouco... Aproveitar o dia.

Eu assenti. Ficamos em silêncio de novo enquanto eu engolia o pão com manteiga. Eu disse:
-Deixa as chaves com a gente e, se a gente sair, a gente deixa a chave no vão da porta.

Ele pensou um pouco e disse OK. Depois que terminou o café, levantamos e ele foi embora, deixando as chaves comigo. Eu voltei e fui para o quarto da garota. O molho de chaves tinha a chave daquela porta e eu abri com facilidade. Entrei no quarto e comecei a olhar as coisas dela: Que tipo de roupas ela vestia, as cores da maquiagem, fotos, textos, trabalhos escolares, livros, DVDs, enfim... Tentando conhecê-la melhor, assim, se eu a visse por aí, eu ia poder saber mais ou menos que era ela... Mas, claro... isso tudo era de antes de ela ter aquele breakdown, então, muito provavelmente, muita coisa teria mudado. Isso se ela não estivesse numa camisa de força ou sei lá... Tá, acho que eu exagerei. Mas acabei descobrindo que ela parecia ser uma garota meiga, delicada, enfim... Todas as cores eram claras e alegres, os textos simples, porém bem escritos... Fotos comuns, iluminadas, felizes. Tudo muito bem organisado. Eu tentei deixar tudo no mesmo lugar que encontrei. Só aí que eu percebi que o Ivan e o Pedro estavam conversando do lado de fora, meio em pânico com onde eu e Ricardo estávamos. Eu saí do quarto o mais sorrateiramente possível. Eu sabia que doía pra Ricardo mostrar esse quarto pra outras pessoas e eu não queria que eles vissem o quarto ou soubessem que eu vi sem a permissão dele. Eu tranquei a porta e fui para a cozinha, onde encontrei os dois conversando e tomando café. Eles perguntaram aonde eu estava e eu disse: No banheiro.

***

Depois de um tempo, eu expliquei pra eles a história inteira e eles perguntaram um monte de coisas. Eu não sabia explicar muita coisa, mas respondi da melhor maneira que pude. Agora estávamos mais ou menos no ponto zero novamente. Íriamos ter que sair em busca de duas pessoas que a gente não fazia ideia se estavam vivas ou mesmo aonde estavam. E estávamos novamente sem roupas e quase sem armas. Eu só tinha uma faca, Ivan só tinha um cutelo e Pedro só tinha sua faca comprida. Pelo menos tínhamos um abrigo com comida, água e um amigo aparentemente confiável, com habilidade o suficiente para nos proteger bem, de militares ou zumbis. A gente saiu e eu coloquei a chave no vão da porta. Erguemos as armas e começamos a vagar pela cidade vazia, cautelosos e com dificulade, por causa da ferida de Pedro. Esse era o primeiro dia da caça às sobreviventes. E o último.