domingo, 14 de fevereiro de 2010

Capítulo 21- Caos

A gente dobrou algumas ruas e fomos andando vagarosamente e em silêncio. As ruas vazias a não ser por carros abandonados para trás na correria da evacuação. A gente não sabia dirigir e, se soubesse, não seria muito aconselhável, por que iria atrair muita atenção. Se bem que seria muito melhor, por causa da perna machucada do Pedro. Mas, enfim, a realidade era outra. Se eu pudesse escolher a realidade, a gente nem ia precisar saber dirigir um carro, muito menos ter que amparar o Pedro por aí. O grande problema da perna do Pedro é que tirava a nossa velocidade. Com ele machucado daquele jeito, a gente não tinha como fugir de zumbis, tínhamos mais ou menos a mesma velocidade deles. Por isso fomos tentando nos esconder, do melhor jeito que deu. A gente não tinha um destino certo, então o plano era perambular pelas ruas procurando as duas meninas, sem ser visto pelos zumbis, até cansar. Enfim, é claro que ia acabar dando errado.

***

E deu. Estávamos andando em uma rua qualquer por ali prédios cercando os dois lados, quando nós avistamos um grupo. Uma roda de zumbis. Deviam ter uns 30, mais ou menos, todos voltados para o que parecia ser um carro capotado. Comendo alguma coisa. Eu apertei a faca na mão e virei para os dois para avisar, quando ouvi um barulho. De repente, uma latinha de cerveja voou e caiu, fazendo um barulho que, aos nossos ouvidos já acostumados com o silêncio, pareceu um estardalhaço. Eu percebi que o barulho veio de trás de nós, da longa rua que se estendia para o outro lado. Eu virei para olhar e vi: Outro zumbi, gemendo, os braços erguidos em nossa direção. Alguns dos outros zumbis se viraram para a nossa direção com o barulho, mas nem todos. Esses viraram-se e vieram se arrastando no seu ritmo lento para cima de nós. Tínhamos que ser rápidos e silenciosos, ou iríamos atrair o resto da turma. Ivan estava parecendo bastante nervoso, murmurando coisas que eu não entendi. então eu virei para o Pedro, que compartilhava meu ódio mortal por zumbis, e disse, meio que brincando:
-Você quer o prato principal ou só o aperitivo?
Ele sorriu e respondeu:
-O prato principal.
Eu virei para o único zumbi que vinha andando. Então, com meu olho, percebi que um zumbi se levantava detrás de um poste e outro dobrava a esquina em frente, certamente atraídos pelo barulho da lata. Eu corri até o primeiro zumbi e, me abaixando para escapar das suas mãos desmortas, eu enfiei a faca ao lado do seu joelho e puxei, arrebentando um dos dois tendões com certa dificuldade. Ele segurou meu ombro esquerdo e se abaixou para me morder. Eu me esquivei rolando pro lado desajeitadamente. Ele começou a se arrastar, mais lentamente que o normal, atrás de mim. Eu me levantei e dei uma olhada para os lados. Um dos zumbis estava logo á minha esquerda, mãos estendidas, guinchando sobrenaturalmente para mim. Ele me segurou e pe puxou com força, abrindo a boca, os olhos saltados fixos em mim. Eu tentei. Eu enfiei a faca na garganta dele com força e empurrei ele pra longe. Mas ele tinha me pegado num abraço. Com dificuldade eu empurrava ele para longe, enquanto eu sentia o hálito horrível e quente dele atingir meu rosto, fazendo meu estômago revirar. A boca dele estava aberta a centímetros da minha cara. Nem tentei me soltar. Se eu tentasse, ele ia acabar me mordendo, porque eu ia soltar a faca. Então eu tive a ideia. Eu comecei a fazer força para cima com a faca e fui abrindo o pescoço dele até o queixo. Ele não pareceu se importar. Com um salto, me impulsionando para frente, a faca presa no maxilar dele, eu derrubei ele no chão com força, o impacto entre o chão e a cabeça dele, sendo o suficiente para a faca arrebentar o osso do maxilar dele, fazendo mais sangue espirrar por aí. Eu estava montado em cima de um zumbi inofensivo. Nunca mais iria morder ninguém. Eu retirei a faca do meio da boca dele e segurei ela à frente dos meus olhos. Ela também tinha entortado com o impacto com o chão. Sem faca pra mim. Eu senti mãos pegarem meu braço direito e o levantarem. Com força, eu dei uma cotovelada na boca do zumbi que estava o segurando. Foi pura sorte ela estar fechada. Eu vi dois dentes caírem enquanto ele abriu a boca. Merda, meu braço estava praticamente dentro da boca dele. Aí, puxaram meu outro braço com força e eu me impulsionei com as pernas para o lado que o puxaram. O zumbi que segurava meu braço direito mordeu o ar, enquanto o outro, que tinha me puxado, tinha sido derrubado pela minha força somada à dele. Pensei em Pedro e Ivan, mas não me arrisquei a olhar para onde os dois estavam. Eu caí no chão em cima do novo zumbi, que fez um barulho com a garganta e tentou me morder, mas eu já estava me levantando. O outro zumbi (uma mulher, por acaso) já estava na minha cola. Eu saltei e dei um chute na garganta dela, enquanto ela se impulsionava pra frente pra me morder. Ela levantou no ar, virou e caiu no chão. O outro zumbi, que já estava no chão, pegou meu tornozelo esquerdo e eu pisei com o pé no braço dele enquanto tirava meu tornozelo do aperto da mão cadavérica. Ele tentou então morder o tornozelo que estava em cima do braço dele, mas eu pulei, caindo com um pé em cima da cabeça dele, escorregando e caindo de costas no chão novamente (eu disse que eu caio fácil, lá no prólogo, lembra? Maldita labirintite) Eu caí com a parte detrás da cabeça primeiro, o que doeu um bocado. Isso, juntando com a minha labirintite e meu ferimento recente no crânio (coronhada do Ricardo), fez minha vista escurecer. Eu levantei rápido e aí minha pressão caiu. Só aí eu desmaiei. Por uns segundos só. Caí de cara no chão. Acordei com sangue escorrendo do nariz e uma dor filha da puta no lábio. Me coloquei em posição de flexão pra tentar me levantar. O zumbi que estava caído à minha frente foi com a boca aberta com tudo nas minhas mãos enquanto eu me levantava. Eu me joguei para trás, acertando um outro zumbi na virilha com a parte detrás da cabeça. Esse zumbi caiu em cima de mim. Eu ouvi uns grunhidos atrás de mim, como se alguém estivesse lutando para se livrar do aperto de um zumbi. O zumbi que tentou morder minha mão acertou em cheio o asfalto, boca aberta e tudo. O zumbi que caiu em cima de mim, no entando, pegou minha perna. Eu senti a saliva dele roçando minha canela. E, apesar da minha luta, de todo o esforço que eu tive pra chegar até aqui, de tudo que eu tinha passado, dos meus chutes e joelhadas, ele me segurou. E me mordeu.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Capítulo 20- Uma Manhã Quase Comum

No dia seguinte eu levantei cansado. Quase não dormi. Acordei e apenas Ricardo estava de pé. Ele estava fazendo uma mesa de café pra gente. Eu dei bom dia e fiquei quieto, como geralmente faço de manhã. Percebi que ele também era assim, porque mal respondeu meu bom dia e ficamos um tempão sem falar nada, eu ajudando ele a preparar a mesa. Terminamos, sentamos e começamos a comer. Aí ele falou:
-Tenho que sair daqui a pouco... Aproveitar o dia.

Eu assenti. Ficamos em silêncio de novo enquanto eu engolia o pão com manteiga. Eu disse:
-Deixa as chaves com a gente e, se a gente sair, a gente deixa a chave no vão da porta.

Ele pensou um pouco e disse OK. Depois que terminou o café, levantamos e ele foi embora, deixando as chaves comigo. Eu voltei e fui para o quarto da garota. O molho de chaves tinha a chave daquela porta e eu abri com facilidade. Entrei no quarto e comecei a olhar as coisas dela: Que tipo de roupas ela vestia, as cores da maquiagem, fotos, textos, trabalhos escolares, livros, DVDs, enfim... Tentando conhecê-la melhor, assim, se eu a visse por aí, eu ia poder saber mais ou menos que era ela... Mas, claro... isso tudo era de antes de ela ter aquele breakdown, então, muito provavelmente, muita coisa teria mudado. Isso se ela não estivesse numa camisa de força ou sei lá... Tá, acho que eu exagerei. Mas acabei descobrindo que ela parecia ser uma garota meiga, delicada, enfim... Todas as cores eram claras e alegres, os textos simples, porém bem escritos... Fotos comuns, iluminadas, felizes. Tudo muito bem organisado. Eu tentei deixar tudo no mesmo lugar que encontrei. Só aí que eu percebi que o Ivan e o Pedro estavam conversando do lado de fora, meio em pânico com onde eu e Ricardo estávamos. Eu saí do quarto o mais sorrateiramente possível. Eu sabia que doía pra Ricardo mostrar esse quarto pra outras pessoas e eu não queria que eles vissem o quarto ou soubessem que eu vi sem a permissão dele. Eu tranquei a porta e fui para a cozinha, onde encontrei os dois conversando e tomando café. Eles perguntaram aonde eu estava e eu disse: No banheiro.

***

Depois de um tempo, eu expliquei pra eles a história inteira e eles perguntaram um monte de coisas. Eu não sabia explicar muita coisa, mas respondi da melhor maneira que pude. Agora estávamos mais ou menos no ponto zero novamente. Íriamos ter que sair em busca de duas pessoas que a gente não fazia ideia se estavam vivas ou mesmo aonde estavam. E estávamos novamente sem roupas e quase sem armas. Eu só tinha uma faca, Ivan só tinha um cutelo e Pedro só tinha sua faca comprida. Pelo menos tínhamos um abrigo com comida, água e um amigo aparentemente confiável, com habilidade o suficiente para nos proteger bem, de militares ou zumbis. A gente saiu e eu coloquei a chave no vão da porta. Erguemos as armas e começamos a vagar pela cidade vazia, cautelosos e com dificulade, por causa da ferida de Pedro. Esse era o primeiro dia da caça às sobreviventes. E o último.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Capítulo 19- Raquel Almeida Rzepkowski

Pedro dormiu no sofá. Eu dormi no colchão. Ivan dormiu numa poltrona. Eu acordei no meio da noite, porque ouvi um barulho. Eu levantei e peguei o taco de beisebol que tinha deixado ao meu lado. Tentando ser o mais silencioso possível, eu abri a porta do quarto. Coloquei a cabeça pra fora e olhei pelo corredor. A porta, antes trancada, estava aberta e uma fraca luz saía lá de dentro por uma fresta. Eu ergui o taco e continuei. Com uma das mãos, eu abri a porta enquanto a outra empunhava o taco. Eu coloquei a cabeça para dentro e vi um quarto. Um quarto de menina. A filha dele. O abajur estava aceso e emitia uma luz tênue e levemente fantasmagórica sobre o quarto. A cama tinha uma colcha roxa, com um lençol branco. O travesseiro também era roxo e as paredes do quarto, menos uma, eram brancas. A outra era roxa. Tudo parecia estar em diferentes tons de roxo. Então eu percebi a arma apontada do lado da minha cabeça. E Ricardo disse:
-Caramba, Hugo, não me assusta assim!

Ele estava encostado na parede ao lado da porta, a arma em mãos. Ele colocou a arma na escrivaninha do abajur e deu um suspiro. Eu perguntei:
-Posso entrar?

Ele assentiu com a cabeça e sentou na cama. Eu entrei, ele fechou a porta. Um silêncio meio constrangedor ficou no ar um tempo e aí ele começou a falar:
-Eu venho aqui pra pensar... Quando eu quero ficar meio que isolado do resto do mundo...- Ele fez uma pausa e continuou- Minha filha, Raquel... Ela tem mais ou menos a idade de vocês... Uns 15 anos, né?

Eu assenti com a cabeça. Ele continuou:
-Ela... Ela era normal... Sempre foi feliz, sorridente, alegre... Uma energia ótima... As brigas entre nós eram raríssimas... Éramos uma família qualquer. Mas aí... Aí aconteceu. Era um sábado à tarde e eu recebi um telefonema. Era do hospital. A minha mulher tinha batido o carro e morrido. Tudo por causa de um motorista bêbado. A Raquel... A Raquel não conseguiu superar... Começou a se isolar cada vez mais do mundo, se recusava a ir à escola e a sair de casa e, eventualmente, a sair do quarto. E aí ela se ofereceu para fazer as compras para mim. Eu achei que ela ia melhorar. Ela voltou com tudo e foi direto pro quarto. Alguns minutos depois, fui chamá-la para o almoço e encontrei ela na cama, os pulsos cortados, uma faca nas mãos. Ela estava sentada, chorando- Ele começou a chorar- Eu vi a culpa em seu olhar. E ela começou a chorar mais. Eu entrei em pânico. Eu chamava a ambulância ou tentava ajudar ela? Eu corri para o telefone enquanto ouvia ela chorando e pedindo para eu perdoa-lá. A ambulância chegou rápido e logo levaram ela para um hospital. Então fizeram uns testes nela e determinaram que ela estava fragilizada demais para voltar pra casa, num lugar que lembrasse tanto a mãe dela. E interneram ela num centro psiquiátrico... Eu perdi a mulher e a filha por causa de um filho da mãe que dirigiu bêbado. Puto!- Ele estava tremendo. Então ele engoliu a raiva e continuou contando a história- Ela nunca mais foi a mesma. Eu ia visitá-la e, quando ela não chorava pedindo perdão, ela estava catatônica, olhando a parede, sem ouvir nada que eu dizia... Eu mantive o quarto do jeito que ela deixou quando saiu, esperando que ela voltasse. Ela nunca voltou... Há pouco tempo recebi uma carta dizendo que ela tinha sido infectada com um tipo de vírus ou algo assim. Hoje eu sei o que era. Ela fugiu do hospital, não sei como. E agora eu não sei onde ela está. Me recusei a sair daqui sem minha filha. Eu não vou abandonar a cidade sem ela!

Eu concordei com a cabeça, lentamente. Comecei a dizer;
-Olha... Eu também... Eu também perdi a Vany... A gente... A gente vai ter que procurar juntos. Pelas duas. Eu... Nem imagino como é a dor que você deve estar sentindo, mas... Eu... Eu vou te ajudar no que puder, cara... O que eu puder fazer... Conta comigo.

Ele pareceu meio surpreso e depois ficou com uma cara mais determinada, apertou minha mão firmemente e disse:
-Eu também, cara. No que eu puder ajudar...

Eu respondi:
-Brigado... Juntos a gente vai achar elas! E elas vão estar bem! As duas!

Ele assentiu com a cabeça. Só muito depois, já na cama novamente foi que eu me perguntei se eu realmente acreditava que as duas estariam bem. Se a gente tinha chance mesmo de achá-las. Se a gente iria sequer sobreviver a isso tudo. A ausência de respostas me manteve acordado a noite inteira

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Capítulo 18- Festa

Eu acordei não sei quanto tempo depois. Senti aquele gosto horrível de saliva parada na boca. Eu estava num quarto pequeno, dormindo num colchão jogado num canto. Precisava beber alguma coisa. Eu balancei a cabeça tentando ajeitar meus pensamentos. O quarto estava uma bagunça. Sentado em uma cadeira em frente à escrivaninha, o homem estava olhando alguma coisa. Ele pareceu não perceber que eu tinha acordado, porque estava murmurando:
-...lembram tanto você... Você... Você ia gostar deles...- Ele estremeceu e eu percebi que ele estava soluçando. De repente, ele se controlou, balançou a cabeça e colocou a foto que estava olhando na escrivaninha de novo. Não dava pra ver de quem era àquela distância. Ele fungou e depois beijou a mão e colocou na foto, completando- Espero que esteja a salvo.

Ele se levantou e saiu do quarto, eu me fingi de morto. Depois de um tempo, eu levantei e, ao lado do meu colchão, encontrei um copo com leite e uns biscoitos, que comi com vontade. Levei o copo com leite até a escrivaninha e comecei a olhar para os papéis. Eu tinha ficado irritado com o cara, mas agora já tinha passado a raiva. A maioria eram relatórios médicos, o último era uma carta, com a data de 4 dias atrás. Eu dei uma olhada rápida:

"...a paciente Raquel Almeida Rzepkowski foi diagnosticada com um novo vírus desconhecido e, após alguns testes terem sido realizados, desapareceu..." Eu olhei, a carta estava com o símbolo oficial do Centro Psiquiátrico Francisco Saldanha. Eu peguei a foto e tomei um gole de leite. A foto mostrava uma garota de 13 anos, mais ou menos, cabelos castanho-avermelhados e olhos azuis, com sardas no rosto. Ela tinha um sorriso de orelha a orelha e estava abraçada com o homem e uma outra mulher. Provavelmente pai, mãe e filha. A mulher era ruiva, bonita e tinha sardas, o homem tinha o cabelo castanho claro e bagunçado, barba malfeita e uma barbixa, mas era jovem. Ele era alto, magro e musculoso. Eu vi, na escrivaninha, um distintivo da Polícia Civil. Eu coloquei o copo num canto da escrivaninha de madeira escura e saí do quarto. O quarto dava num corredor estreito e mal iluminado. De um lado, uma porta levava a uma sala com TV, do outro, uma cozinha e, no final, trancada, havia uma 4ª porta e uma escada. Eu voltei para a cozinha, onde o homem estava se abaixando para tirar alguma coisa do forno. Pizza. Hmmmm. Pedro estava sentado com a perna esticada em uma cadeira, Ivan estava sentado também, conversando com ele. Eu bati na porta e, meio que com um sorriso, disse:
-E aí, quem pediu um Hugo?

Ivan e Pedro sorriram e o cara colocou a pizza na mesa, meio envergonhado. Ivan me cumprimentou meio de longe e o homem disse:
-Escuta, eu... Eu só fiz aquilo por que você tava em pânico. Se a gente voltasse lá, pior... Se você voltasse lá sozinho...

Eu interrompi:
-Eu estaria morto, eu sei. Mas tá doendo- Eu dei um meio sorriso.

Ele sorriu de volta e chegou mais perto, estendendo a mão:
-Hugo, né? Eles me falaram. Ricardo.

Eu apertei a mão dele, meio tenso, mas tentando não deixar transparecer. Ele meio que riu e começou a dizer:
-Olha, cara, eu... Eu fico irritado muito fácil... Eu sei que tenho esse problema, mas eu tenho tentado controlar... Mas geralmente eu sou bem tranquilo... E aí, tá com fome?

Eu sorri:
-Muita.

Sentamos para comer a pizza. Enquanto isso, fomos contando para ele o que tínhamos passado, às vezes precisando de ajuda para lembrar, às vezes nos enrolando um pouco, mas contamos, enfim. Ele ouviu tudo atentamente, fazendo alguns comentários e perguntas de vez em quando. Nós terminamos o jantar e ele disse:
-Agora eu entendi porque você queria voltar pra pegar ela- E deu uma piscadela.- Me digam uma coisa, o qeu vocês acham de tirar a noite de hoje para relaxar?

A gente se empolgou. Ele disse:
-Tem cerveja na geladeira...

Nós rimos. Ele pegou uma cerveja e abriu, levantou-se, foi até a sala e colocou uma música e voltou tomando cerveja. A gente conversou um monte, rimos com as histórias dele. Ele contou que uma vez tinha ido acampar com os amigos e tinham esquecido as barracas. Eles invadiram uma casa e dormiram na sala. No dia seguinte, o dono da casa chegou de viagem e pegou eles dormindo. Eles conversaram com o dono e pagaram um aluguel mixuruca porque ficaram amigos dele. Enfim, ele contou vários causos da juventude e nós contamos umas histórias. Pedro falou da vez que Ivan ficou preso no banheiro do ônibus escolar e eu lembrei de como eu fiquei conhecendo eles. A gente conversou a noite inteira e depois fomos dormir, leves, felizes, distraídos. Ele ficou de vigia a noite inteira, olhando pela janela, tomando cerveja da garrafa e com um olhar meio perdido.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Capítulo 17- Chegadas e Partidas

Eu nem sabia o que estava fazendo. me movia mais rápido do que jamais consegui. Em pouco menos de 3 segundos, estava com a Vany. A primeira coisa que eu vi foi ela. Ela estava se desvencilhando de um zumbi. Além dela e do zumbi, outros seis se encontravam ali e mais entravam por um rombo na parede, local em que antes havia uma porta. Eu estava quase desarmado. Apenas as facas. Na verdade, duas facas. Eu saquei as duas e, com um pisão no peito de um dos zumbis mais próximos, entrei na batalha.
Eu enfiei a faca na cabeça de um dos zumbis e virei-me para o outro lado para esfaquear outro. Então eu senti mãos em meus ombros me puxando e outras no meu braço esquerdo. Com um tranco, soltei meu braço esquerdo e, usando o impulso que o zumbi que estava me segurando deu para frente (provavelmente para me morder), dei uma cambalhota. O zumbi ficou parado no chão, completamente confuso, enquanto eu, desajeitado, acertei sem querer as pernas de outro zumbi, que caiu em cima de mim me prendendo. Eu coloquei o braço entre ele e eu e ele se afastou para dar um bote no meu pescoço. Eu fui mais rápido, colocando a faca no caminho dele, fazendo-o perfurar o pescoço. Ele não "morreu", mas parou. O que me deu tempo o suficiente de empurrá-lo com força para longe. Legal, eu só tinha uma faca. Eu me levantei. Mais e mais zumbis continuavam a entrar pelo rombo da parede. Estava no meio deles, mas eles também estavam distraídos com a Vany, o que me dava uma chance. Então surgiu a salvação. Um tiro passou ao lado de um zumbi, o que chamou a atenção de muitos deles. Pedro, apoiado em Ivan, atirava com o revólver, acertando poucos tiros. E então as balas acabaram. O Pedro puxou a faca longa e, meio abraçado em Ivan, começou a cortar para todo o lado. Aí a gente ouviu um resmungão:
-Merda!

Era uma voz masculina, adulta. E então ouvimos mais tiros. Uma explosão média. Eu senti meus tímpanos doerem. Vany correu para a cozinha. Ivan, com o braço livre, atacava os zumbis com o cutelo, mas parou ao ouvir a explosão. Todos os zumbis viraram-se para o lado da explosão e eu aproveitei a chance para enfiar a faca em no mais próximo, que caiu no chão. Outra explosão e aí uma voz:
-Andem, venham! Eles vão se juntar em pouco tempo, porra!

Foi só aí que eu percebi que era alguém do lado de fora. Eu olhei e vi uma pequena multidão de zumbis e um buraco na multidão. Era a saída. Do outro lado do buraco, a alguns metros de distância, um homem adulto, alto, vestindo o que parecia ser uma camisa social e calças jeans, atirava nos zumbis nas laterais do buraco, afastando-se a cada tiro. Corri para fora o mais rápido possível. Pedro e Ivan seguiram lentamente e eu voltei para ajudá-los a manter os zumbis longe, com empurrões, chutes, trancos e outros golpes pouco ortodoxos. O homem atirava nos zumbis com uma perícia enorme e Ivan e Pedro cortavam qualquer um que se aproximasse demais. Eles passaram pelo buraco, dificultosamente e começamos a caminhar rapidamente para longe daquilo. Nós andamos e chegamos até o homem. Ele virou e começou a correr, dizendo:
-Venham, vamos!
Corremos atrás dele. Aí eu falei:
-Peraí! Cadê a Vany?

Ivan e Pedro ficaram em silêncio. Ivan chegou a abrir a boca pra dizer alguma coisa, mas pensou melhor e ficou quieto. O homem resmungou:
-O quê? Tinha mais alguém com vocês?

Eu parei e comecei a voltar, dizendo:
-Eu tenho que voltar

. Ivan encostou em mim com a mão e eu a joguei pra longe. Foi aí que eu ouvi o homem dizer:
-Ah, mas nem fudendo

E eu senti ele pulando em mim e me prendendo com facilidade com seus braços. Eu comecei a falar:
-Não, a Vany não pode ter ficado, eu tenho que buscar ela!

Ele segurou pelos ombros dizendo:
-Quem? Quem é essa?

-A Vany é... É a nossa amiga- Eu disse, lágrimas queimando os olhos- Eu tenho que voltar! Eu tenho que voltar! Ela está desarmada!

Ele apertou mais forte, dizendo:
-Você tá maluco? Aquele lugar tá cheio de zumbis, depois da explosão enorme que teve aqui, cada zumbi do bairro deve estar vindo pra cá. A gente tem que fugir! Não há tempo a perder!

Eu tentei me soltar dele, dizendo:
-Não interessa, eu tenho que salvar ela, eu não posso deixar que...

Só aí eu percebi o quanto ele estava estressado. seu rosto mostrava uma expressão de raiva pura. Ele me soltou. E depois me acertou com a empunhadura da arma na cabeça. E aí ficou tudo preto.