terça-feira, 6 de abril de 2010

Capítulo 26- Ivan de Lara Vérité

Eu pensei nisso tudo. Mas o que eu queria era que tudo isso se explodisse... Não me importava. O que importava é que eu nunca mais veria o Ivan. Eu nem cheguei a me despedir. E ainda por cima, eu me culpava. Pedro depois pediu desculpas, havia me culpado de cabeça quente, mas eu ainda sentia a ausência do Ivan. A sua não-presença, com a qual eu teria que aprender a lidar depois. Depois. Agora, eu só queria lembrar. Lembrar de como nós fomos colegas por muito tempo antes de nos tornarmos amigos de verdade. Lembrar de como o conheci, nossa primeira conversa, as noites lá em casa, do dia em que eu o apresentei à Vany, das risadas entremeadas por tosses, alegres tosses, que ele dava. Das histórias, dos projetos, do sentimento de calma e segurança que ele me passava.

-Ele me salvou- Disse Pedro, fitando o nada. Eu tinha acordado há pouco tempo, muito triste pra levantar da cama, as luzes já acesas no interior da casa. E Pedro estava lá, sentado ao meu lado na cama, olhando para o canto do quarto como se fosse uma televisão. Tínhamos ficado quietos até que ele disse isso. Ele pausou um momento e continuou.- Nós estávamos rodeados de zumbis, eu abri um caminho. Nós tentamos fugir por um tempo, mas eles estavam nos alcançando. Daí o Ivan parou, respirou fundo e disse que ia tirar a gente dessa. Que era o único jeito. Eu não entendi nada e ele me mandou correr. Ele disse que tudo bem, que isso era parte do plano dele. Ele me mandou correr para longe que ele ia me salvar. Ele ia atrasar os zumbis. Eu não sabia o que fazer- Ele fungou- Mas ele me empurrou pra longe e já haviam zumbis chegando. Eu caí no chão e um zumbi chegou por trás dele e mordeu seu ombro. Eu saí correndo pro outro lado. Ele deve ter matado uns três pelo menos. Filhos da puta...

Eu fiquei olhando pra ele: olhos aguados, tentando esconder a profunda tristeza que sentia. Ele levantou e foi embora. Eu fiquei refletindo. Muita gente diz que morreria pra salvar outro, mas, no fundo no fundo, sabe que não é verdade. São poucos aqueles que se sacrificariam por uma outra pessoa assim, de repente, sem nem garantia de que o outro vai sobreviver. E Ivan o fez. Toda a implicância que nós tínhamos com ele, é desnecessário dizer, desapareceu. Corajoso. Esse era o adjetivo que o designava. E eu decidi parar de chorar e começar a tentar respeitar ele, seguindo seu exemplo. A partir de agora, era hora de me acalmar, começar a matar zumbis planejadamente, com segurança, pra garantir o maior estrago possível na população deles. Era hora de começar a me preocupar com os outros sobreviventes e começar a me sacrificar por eles também. Era hora de fazer a diferença. Eu levantei, um brilho determinado em meu olhar. Era hora de começar a ser corajoso.