quinta-feira, 18 de março de 2010

Capítulo 23- Encontro Surpresa

Eu tinha acabado de sentir a maior dor que eu ia sentir em toda minha vida. Isso, pelo menos, foi até eu começar a pensar direito. Eu tinha que me cuidar pra que aquilo tudo não infeccionasse. E, quando eu cheguei à casa de Ricardo, a porta caída no chão, eu entrei no banheiro e tranquei a porta. Então eu me despi. E aí eu tomei um banho. Toda a dor que eu tinha sentido pareceu banal. Eu gritei mais do que eu podia gritar. Chorei todas as minhas lágrimas. Mas eu aguentei. Não fugi. Terminei o banho e peguei os medicamentos numa pequena prateleira embaixo da pia. Me enfaixei com gaze e exagerei no spray anti-infeccionante. Coloquei a roupa de novo e saí, em dúvida sobre tentar construir uma barricada para a casa e esperar ou pegar as armas e fugir. Todas as minhas dúvidas foram interrompidas quando eu saí do banheiro.
Eu abri a porta e saí. Então eu vi uma garota bonita, mas maltratada, mais ou menos da minha idade, cabelos escuros compridos caídos por cima dos olhos, encostada na parede ao lado da porta, me olhando atentamente, uma faca erguida no ar. Ela hesitou: Provavelmente não esperava um garoto de sua idade saindo dali. Esse segundo de hesitação me deu a chance de segurar o antebraço dela firmemente contra a parede. Ela então me deu um chute na canela, que acertou meu ferimento recém aberto e recém tratado, fazendo eu me contrair de dor, soltando o braço dela. Ela me atacou com a faca, fazendo um corte dolorido no meu braço esquerdo. Dolorido, mas superficial, porque eu pulei para o lado, caindo no chão de lado e rolando, ganhando o equilíbrio novamente. Todo meu corpo doía lancinantemente. Eu me levantei rapidamente e ela avançou com a faca erguida. Eu não gostava da ideia de bater em uma mulher. Então eu precisava desarmá-la e imobilizá-la. Eu peguei o braço dela novamente, girando-o e prendendo-o sob meu próprio braço, fazendo, assim, a faca cair no chão. Então eu passei o outro braço por trás da cabeça dela, prendendo-a no vão dele. Ela assim ficava indefesa e eu podia conversar com ela. Ela perguntou:
-Quem é você?

Eu respondi:
- Eu que vou perguntar, OK? O que você tá fazendo nna minha casa?

-Sua casa?- Ela retrucou- Essa casa é a casa do meu pai!

Eu arregalei os olhos e soltei ela, dizendo:
-Raquel?

***

A gente conversou. Ela não me contou muita coisa, mas eu contei tudo pra ela. Eu fiquei sabendo que ela já planejava a fuga do Instituto muito antes de fugir realmente, mas não esclareceu os detalhes da fuga. E que tinha fugido muito antes de avisarem seu pai. E que tinham realizado testes nela muito piores do que avisaram. Enfim, tudo no tal Instituto parecia errado. Eu comecei a perceber que seu cabelo não era tão escuro, que aquilo era sujeira. E percebi também que ela viveu fugida assim desde que saiu de lá, antes de a invasão começar. Nós dois estávamos bastante desconfiados um do outro, porém foi bom achar um rosto amigo em meio à tudo aquilo que estava acontecendo. Mas dava pra perceber que ela ainda estava bastante fragilizada. Ela podia não ser louca, mas definitivamente não era normal. Racional, intelectualmente? Perfeita. Emocionalmente falha. Quando eu terminei de contar a minha história até o ponto onde estávamos, ela imediatamente levantou-se e disse:
-Nós precisamos encontrar meu pai!

E começou a ir em direção à porta. Eu demorei bastante tempo pra convencer ela a esperar por ele. E pelos meus amigos, Pedro e Ivan, que eu nem sabia como estavam. Ela demonstrou pouco interesse pelos meus problemas, mas ficava desesperada em relação ao pai. Eu conversei com ela, a gente construiu uma barricada juntos, na porta. E aí a gente esperou.