sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Capítulo 14- Inferno

Assim que descemos as escadas, a gente viu: Dinamites, nas colunas. Muitas, muitas, muitas, muitas. Mais do que eu já havia visto. Todas elas estavam conectadas a um dispositivo que estava dentro da garagem. As dinamites junto com a gasolina dos carros e etc... Ia dar uma bela explosão. Com certeza iria acabar com o prédio. Chequei o dispositivo e percebi uma antena. Provavelmente, a explosão seria comandada à distância. E já devia ter sido ativada, porque no exato momento em que eu peguei o dispositivo, eu vi um número piscando: 00:03:47. Eu soltei aquilo e saí correndo, puxei o Pedro e disse, enquanto corria:
-A gente tem 3 minutos pra cair fora! Essa merda vai explodir!

Ele arregalou os olhos e nós hesitamos um momento. Pouco tempo depois, corremos para o elevador da frente e chamamos. Graças a Deus, ele estava no térreo. Ele desceu os dois andares muito lentamente e, nós, apreensivos, ficamos apertando o botão e dizendo:
-Rápido, rápido!

A porta do elevador se abriu e a gente olhou para dentro: 2 zumbis. Entrei no elevador com o revólver levantado, apontado na cabeça do zumbi mais próximo, dando três tiros seguidos. O que foi uma merda, já que a arma deu um repuxo desgraçado e acertou meu nariz com força. Provavelmente quebrei o nariz, o que sempre fora um medo enorme meu. Mas estava desesperado e ignorei a dor. Acertei a cabeça de outro zumbi com o taco de beisebol. Pedro apertou o andar 13. Não havia tempo para nada. O elevador foi zubindo devagar e eu olhei para o espelho, machado com o sangue da cabeça do primeiro zumbi, rachado em vários lugares com os meus tiros. Vi que meu nariz sangrava muito, mas ao mexer nele, não senti nada se movendo. Graças a Deus. Então, o zumbi que eu acertei a cabeça com o taco de beisebol se mexeu, esticando a mão e segurando a perna do Pedro. A gente tinha esquecido de ver se ele estava morto! Caralho, como a gente é burro!
-Merda!- Eu gritei, atirando na mão do zumbi, pra que ele soltasse Pedro. Acertei a mão do zumbi. Ele soltou Pedro. Mas eu acertei também a perna do Pedro, atravessando bem o meio do osso. O zumbi se encolheu insitntivamente. Pedro deu um berro e... Desmaiou. Droga! O meu reflexo de tirar a mão do zumbi da perna do Pedro foi uma falha. A gente não ter checado se o zumbi tava vivo foi uma falha. A gente não ter checado a garagem tinha sido uma falha. Falhas, uma atrás da outra. Atirei com raiva na cabeça do zumbi, segurando a arma com as duas mãos. Uma poça de sangue se espalhou no chão. Eu tirei a camisa e amarrei na perna do Pedro, nervoso, tentando estancar o sangramento. Levantei ele com mais facilidade do que imaginei e lembrei: A adrenalina devia estar fazendo a festa nas minhas veias. O elevador finalmente parou e, com um chute, eu abri a porta. Eu gritei:
-Alguém abre a merda dessa porta pra mim, aqui é o Hugo!

Droga, a gente tinha se precavido demais. Até o Ivan e a Vany empurrarem os sofás para longe...
Ainda assim, parecia que eles não tinham ouvido. Chutei a porta com Pedro nos braços e gritei:
-Peguem as malas e saiam, é o Hugo, a gente tem que ir!

Eu ouvi eles começando a perguntar alguma coisa, mas eu gritei, interrompendo:
-Não tem tempo pra pergunta, caralho, só peguem as porras das malas e vamos embora! Depois eu explico- Um momento depois, adicionei- E desculpem pelos palavrões...

Eu tava irritado. Pedro estava começando a pesar nos meus braços. Então ele acordou. Me xingou de tudo quanto é nome e tentou ficar em pé. Eu coloquei ele no chão e deixei ele se apoiar no meu ombro. Ouvimos os sofás serem empurrados. Ouvimos a porta ser destrancada. Quanto tempo já teria se passado? A Vany e o Ivan abriram a porta e deram malas para mim. Obviamente, o Pedro não ia poder levar uma mala, então, pra não nos atrasar e nem nos sobrecarregar, a gente teve que deixar uma mala ali, uma das malas de comida. A gente foi para o elevador e eu fiquei feliz pela Vany e o Ivan não terem feito nenhuma pergunta. Eles sabiam que eu não iria brincar e que eu tava irritado, portanto resolveram deixar explicações para depois. Eu só reforcei que era importante a gente andar rápido. A gente chegou lá embaixo já devia ter passado uns 3 minutos, no mínimo. A gente tinha alguns segundos para sair da portaria, que não devia ter mais do que 10 passos. Saí do elevador atirando no vidro das portas da portaria para abrir espaço e não ter que só uma pessoa passar por vez. Devo ter dado uns 4 tiros. Os vidros foram ao chão abrindo muito espaço. pedro gemia de dor, eu mandei os dois correrem na frente. Eles ficaram em dúvida, mas eu já estava indo o mais rápido que conseguia segurando Pedro. Eles começaram a correr e passaram por nós e continuaram indo embora. Eu gritei:
-Corram por suas vidas!

E comecei a chorar, percebendo que não ia dar tempo. Então o Pedro começou a tentar correr também. Era agora ou nunca. Se ele não aguentasse a dor, nenhum de nós dois iria sentir dor, nunca mais. O Ivan já tinha aberto o portão do prédio com o controle remoto (aí, Ivan!) e estava correndo para longe, a Vany, um pouco ao seu lado. Eu e o Pedro saímos da portaria e estávamos descendo as escadas quando o prédio explodiu. Eu estava de costas, mas ouvi o barulho mais alto que já ouvi na minha vida. Não parei de correr. Mais ou menos ao mesmo tempo, ouvi o barulho novamente enquanto toda a vizinhança explodia sincronizadamente. Vários prédios e casas caíram, cada um levantando ondas de poeira inacreditávelmente gigantescas, eu diria uns 12 metros. Eu não ouvia mais nada, minha cabeça pareceu explodir também. Eu só ouvia um zunido muito alto. Um tremor gigantesco se fez sentir quando o prédio atingiu o chão, junto com outros tremores paralelos, causados pelo resto da vizinhança indo abaixo. A onda de poeira nos atingiu, cobrindo meu rosto, entrando nos meus olhos, narinas, orelhas e boca, enquanto eu gritava sem escutar minha própria voz. Eu sufoquei, tentando, em vão, limpar a garganta. Eu tentei abrir os olhos e senti eles lacrimejando, tentando limpar a poeira que se encontrava debaixo das pálpebras. Eu pisquei muito. Não via nada, não ouvia nada. Parecia que o mundo inteiro tinha sido abafado pela imensa nuvem de poeira. Parecia que só existia eu. Em toda a direção que eu olhava, eu só encontrava uma imensidão suja, de cor bege. Então, o zumbido começou a passar e a poeira começou a baixar. Eu tossi. Eu ouvi tosses ao meu lado. Eu falei alguma coisa, não me lembro o que. Com a mão, encontrei Pedro, caído. Toda aquela poeira podia ter infeccionado a perna dele, mas não havia nada que pudéssemos fazer além de esperar que o meu curativo tivesse tapado o ferimento. Eu ouvi, parecendo ao longe, alguém chamar meu nome e vi um vulto correr na minha direção. Ivan se agachou ao meu lado, ofegante. Eu olhei para os dois, cinzentos, cobertos por poeira. Olhei para os lados.
-Cadê vocês?- Ouvimos a Vany gritar.

Ivan se levantou e gritou:
-Aqui!

Ela veio correndo até nós. Nós quatro nos abraçamos e, agachados, começamos a chorar. Antes a gente tinha um local seguro. Uma base de operações, segura, com TV, água quente, camas confortáveis... Agora... Agora nós éramos 4 adolescentes soltos no meio de uma cidade zumbi, sem lugar para onde ir, sem nada além de nós e nossas malas. Tentei afastar da cabeça o máximo que pude o fato de minha casa, onde vivi a vida inteira, ter sido destruída. Éramos crianças, crianças inocentes no meio de um mundo de terror e morte. Pobres anjos no meio do Inferno. E os demônios não eram nem um pouco receptivos