segunda-feira, 3 de maio de 2010

Capítulo 28- Reencontros

Eu ajudei Raquel a levantar e ela me olhou nos olhos, me abraçou e começou a chorar. Eu não sabia se ela tinha visto que o pai estava tão perto. Abracei ela de volta e ficamos daquele jeito por algum tempo. Ela me deu um beijo na bochecha e sussurrou um delicado obrigado em meu ouvido. Ela continuou me abraçando forte e eu fiquei sem saber o que fazer, afinal eu não podia simplesmente empurrá-la para longe. E o pior é que ela tava cheirosa, o que é muito bom, pra variar... Então ela me deu um beijo no pescoço e eu senti um arrepio percorrer a espinha. Aí que eu vi a Vany parada, olhando pra nós, com uma cara de choro. Ela se virou e saiu correndo de volta para a casa e eu, agindo por impulso, saí correndo atrás dela, desvencilhando-me de Raquel e correndo através do parque. Ricardo então veio correndo e me cumprimentou. Ele também não sabia que aquela era a filha dele. Eu virei para trás, ainda correndo e falei, ofegante, apontando para a garota que diminuía à distância, deixada para trás, confusa:
-Trouxe um presentinho pra você, cara...

Ele não entendeu nada, mas virou-se e começou a andar em direção a Raquel. Eu virei pra frente novamente e aumentei a velocidade. Me aproximei da Vany e segurei seu braço. Então ela virou e me deu um tapa no rosto. Não doeu tanto fisicamente. Eu olhei para ela e vi seu rosto iluminado pelo luar, os olhos aguados, o lábio inferior tremendo. Isso sim doeu. E muito. Nos olhamos por um tempo, a tristeza refletida em seus olhos verdes. Então, num impulso, ela me abraçou e, meio confuso, eu abracei ela. Ela começou a chorar no meu ombro e eu soltei um suspiro. Ficamos abraçados por um bom minuto e meio. Ela foi parando de chorar gradualmente e eu acariciava o braço dela, murmurando bobagens como "Calma, calma". Enfim, ela me olhou e me deu outro tapa. Ela disse:
-Esse daqui é pelo beijo que ela te deu e que você recebeu de boa.

Eu comecei a rir.
-Tá com ciuminho é? Num sou nada teu, ok? Tenho direito de fazer o que eu quiser.

Ela pareceu que fosse chorar de novo, então eu comecei a rir mais e falei:
-Mas eu gosto de saber que você tem ciúme de mim. Porque eu também teria ciúme de você. E num tenho nada com você, mas num precisa oficializar um compromisso. É só com você que eu quero ficar, ninguém se compara a você.

Aí ela me abraçou e começou a chorar mais, enquanto eu sussurrei em seu ouvido:
-E você já devia saber disso...

***
Por uma noite, nós fomos uma família feliz. Voltamos para a casa de Ricardo, aonde eu contei a ele sobre o motoqueiro. Ele nem se importou. Tinha a filha de volta, estava felicíssimo. Pedro ficou super feliz em ver a Vany de novo. Nós conversamos a noite inteira e a Vany contou que se trancara no banheiro e saíra pela janelinha pela qual havíamos entrado. E depois disso, foi mais ou menos parado pra ela. Até que Ricardo a encontrou. Não contamos para a Vany que o Ivan tinha morrido, e nem pra Ricardo. Deixamos a má notícia pra depois. Hoja era noite de festa. Conversamos, rimos, chegamos até a dançar. Vany passou a noite inteira de braços dados comigo e Raquel, abraçada com o pai. Mas eu ainda percebia o olhar de Raquel olhando para Vany de uma maneira meio estranha. E, quando eu fui dormir, aquilo continuou me perturbando. E, finalmente peguei no sono, eu tive uns sonhos estranhos, apesar de não me lembrar direito do que se tratava. Só sei que envolvia a Raquel e a Vany. Só que a Vany tava morta.