terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Capítulo 12- Caça aos Zumbis

Eu e o Pedro descemos e resolvemos ver cada apartamento entre o meu e o da Vany antes de chamar os dois. Assim, eles teriam caminho livre para ir e voltar, se nenhum zumbi aparecesse por lá depois. Enfim, a gente foi pro andar número 17. Ficamos abrimos a porta que também estava destrancada (Será que tanta gente assim esqueceu de trancar as portas?) e entramos no apartamento. Assim que abrimos a porta, vimos um zumbi caído no chão, um tiro no meio da testa.
-Os militares- Eu disse, meio que por reflexo. Deviam ter chamado o apartamento e o zumbi não desceu, então eles invadiram o apartamento e o mataram. O apartamento devia estar seguro. Damos uma vasculhada, só pra garantir, e procuramos por possíveis armas. Encontrei uma coisa legal, um taco de beisebol oficial, de madeira maciça. Sorri. Essa sempre foi a arma que eu disse que queria ter se estivesse numa invasão de zumbis. Afinal, antes da invasão, eu era fascinado por zumbis e conversas assim rolavam de vez em quando entre meu grupo de amigos. E, como arma, eu sempre escolhia o taco de beisebol. Ele era pesado, comprido, resistente, fácil de manejar, enfim...
Eu troquei o taco de beisebol pelo taco de Bet's, que eu entreguei pro Pedro. Peguei outra faca na cozinha. Só nessa olhada superficial, deu pra ver que o cara que morou lá era maluco por esportes, ele tinha de tudo. O Pedro pegou outra raquete de tênis (eu já tinha uma). Lá tinha um monte de coisa, incluindo halteres, sacos de pancada, luvas de boxe, enfim. Felizmente eu sabia que ele não tinha mexido no taco de beisebol, então ele provavelmente não estava infectado, porque este ficava num pedestal, com uma assinatura de um astro do beisebol gravada na madeira. Devia ser como um troféu pra ele. Dava até pena pegar uma coisa dessas sem lavar as mãos, tão lustrosa, tão bem cuidada...
Bem, nós voltamos para o lado de fora. Fomos no outro apartamento. Esse estava trancado. Após alguns chutes na porta, nós desistimos de tentar abrí-la. Pedro disse:
-Bem, se a gente não consegue abrir, duvido que um zumbi consiga.- Eu assenti e descemos para o andar número 16. A gente tentou abrir a porta dos fundos, mas estava trancada. Fomos abrir a porta da frente, que estava trancada também. Que droga! No outro apartamento, no entanto, conseguimos abrir a porta. Entramos. Com o taco de beisebol levantado, eu fui na frente. Atrás, Pedro segurava o taco de Bet's com a mão esquerda (Ele é canhoto) e a faca longa na mão direita. Uma sala se abria ao meu lado, então, encostado na parede, eu fui andando lentamente até virar a esquina. Nada. Então, no corredor, eu vi: 3 zumbis, andando lentamente. "Como os militares deixaram esses passar?" Eu me perguntei, mas isso podia ficar pra depois. Entre os zumbis e eu havia uma mesa grande. O apartamento era assim: Na entrada, uma saleta com um tapete e uma mesinha com flores de plástico. Dessa saleta, virava-se numa sala com uma mesa grande. Depois da mesa grande, havia o corredor. No meio do corredor, três zumbis estavam se arrastando, em direção à mesa. Eu subi em cima da mesa e chutei um vasinho que estava lá em cima na direção de um zumbi. O vaso bateu nele sem muito efeito e se espatifou no chão. Pedro correu dando a volta na mesa e ficando colado na parede que dobrava para o corredor, trocando a faca pra mão esquerda, ficando fora da vista dos zumbis. Eu desci da mesa e logo o 1º zumbi veio, fazendo um barulho com a garganta, parecido com o barulho que os gatos fazem. Eu revirei os olhos e acertei ele com força, na cabeça, com facilidade. Ele caiu para o lado, batendo a cabeça na parede do corredor, porém não parecendo ter acabado. Para não estragar o esconderijo do Pedro, eu acertei mais dois golpes na cabeça do zumbi com o taco e ouvi um barulho de ossos quebrando. O outro zumbi já estava praticamente em cima de mim. Eu tinha me distraído e aí o Pedro teve que intervir. Ele virou a esquina com um movimento rápido, enfiando a faca na boca aberta do zumbi. Eu vi a faca saindo pelo outro lado e o Pedro largando ela enquanto o zumbi caía no chão, se debatendo debilmente. Com o taco de Bet's, ele acertou a cabeça do zumbi, acertando-a na parede com o impacto e mais um zumbi foi ao chão. Eu me endireitei (estava meio que agachado por ter atacado um zumbi caído com o taco) e sorri para Pedro. Ele se abaixou para pegar a faca da boca do zumbi e eu comentei:
-Cara, tenta se manter o mais longe possível da boca... É perigoso.

Ele retrucou:
-Funcionou, não funcionou?

A gente explorou mais o apartamento. Não tinha mais nenhum zumbi. Não tinha nenhuma arma diferente, então a gente deixou lá. Depois a gente podia pegar. Saímos do apartamento e descemos para o andar nº 15. No meio das escadas, a gente encontrou outro zumbi. É impressionante como eu comecei a parar de descrever os zumbis. Eu não via eles mais como pessoas que tinham morrido, eu via eles como simples inimigos. Eu me sinto mal por isso. Acho que devia ter mais respeito com as pessoas que morreram, principalmente os meus vizinhos. Provavelmente na hora eu reconhecí eles, mas agora eu já não me lembro muito bem. Eles parecem que ficaram meio borrados na minha memória. Sem rostos ou características marcantes. Eu me sinto mal e, ainda assim, não consigo me lembrar deles. Eu queria tomar um momento da narrativa pra dizer que eu gostaria de poder honrar a morte de cada pessoa. Cada pessoa que caiu vítima do vírus. Cada pessoa que foi mordida, contaminada ou mesmo morta pelos malditos militares. Cada vítima desse evento infeliz. E acho que era por esse mesmo motivo que eu matava os zumbis com tanto ódio. Eles eram culpados. Não totalmente, mas em parte. Eles eram tanto a causa quanto o produto da situação. Vai ver foi por isso que eu esqueci da vida passada das pessoas que eu reconhecia. Isso só iria dificultar vingá-las. Só faria peso na minha consciência por estar destruindo os corpos delas. Foi com esse pensamento que eu acertei a cabeça do zumbi com a ponta do taco. O zumbi caiu para trás e rolou o resto da escada, ficando caído no chão depois, tentando se levantar sem sucesso. Eu desci a escada e acertei a cabeça do zumbi com o taco mais vezes do que o necessário. Depois, com um último chute no corpo inerte do zumbi, eu fui para o corredor. Era o 14º andar. Tentei abrir uma das portas, mas não consegui. Tentei abrir a outra e não consegui também. Pedro disse que uma das portas do fundo estava aberta. Nós entramos. Não havia ninguém no apartamento. Aparentemente, esse foi um daqueles que foi evacuado com sucesso. Procuramos por toda a parte por uma arma diferente, mas não havia nada fora do comum. Só mais uma casa normal. Nós descemos para o meu apartamento e, no caminho, eu cuspi no corpo do zumbi, desgostoso. A primeira parte da missão havia sido cumprida. E eu não me sentia nem um pouco melhor. Na verdade, eu me sentia pior. Cada vez que eu matava um zumbi, passava pela minha cabeça que eu não teria que estar fazendo isso se esse maldito vírus não estivesse solto por aí. O mesmo maldito vírus que estava dentro de mim. Dentro de mim e dos meus amigos. Eu não ia deixar que ele fizesse mal a nenhum de nós. Mentalmente, eu me perguntei se eu seria capaz de nos proteger. Não houve resposta.